Psicologia para todos

Auto estima

03/09/2010 21:45

 

Do que depende a realização pessoal e a capacidade de manter boas relações interpessoais? Durante os últimos quarenta anos de pesquisa contínua sobre os mecanismos do sucesso, descobriu-se três principais fatores:

* Auto-Estima
* Auto-Confiança
* Auto-Realização


Estou escrevendo três artigos sobre estes temas. Neste primeiro artigo falaremos de Auto-Estima.

A Auto-Estima é uma questão candente em nosso mundo moderno, onde a profusão de informações novas a cada momento, a intensa competitividade e a ênfase no sucesso solapa a nossa crença em nossa capacidade pessoal de resolvermos as situações de vida.

A questão é que, culturalmente, baseamos a nossa Auto-Estima pelo passado, pelo que já fizemos.

Se nos avaliarmos pelo que fazemos ou deixamos de fazer, pelo que possuímos ou deixamos de possuir, isto é, pelos resultados que obtivemos da vida em vários aspectos ou áreas de atuação, é natural que nossa Auto-Estima sofra altos e baixos, de acordo com a área que seja objeto de atenção.

O Universo é mutável, é ilógico esperar que fique "congelado" permanentemente em uma situação determinada, favorável ou desfavorável a nós, em uma síndrome do "felizes para sempre", tão comum nos contos de fadas...

Isto cria, em muitas pessoas, um "medo de perder" e um "medo de não conseguir". São, em última análise, crises de Auto-Estima. A solução para isto pode ser percebermos que a sensação interna (sentimento) que chamamos de "o nosso valor pessoal", que surge quando prestamos atenção em nossa identidade, é apenas uma escolha que fazemos, por nós mesmos, ao longo da vida. E que, quando nos habituamos a "dar notas" (que se traduzem em intensidade deste sentimento) através do que observamos em nossa vida, estamos confundindo a parte com o todo, comparando coisas heterogêneas, um verdadeiro contra-senso.

O conceito de "valor" é sempre relativo, nunca absoluto em si mesmo. Algo é julgado "bom" ou "mau", tendo valor ou não, sempre decorrente de algum uso, avaliado por algum observador externo a ele. Isto é, valor é um conceito que depende do uso de algo, em determinada situação. O dinheiro, por exemplo, é extremamente valioso em uma cidade - e totalmente sem valor se estamos sozinhos em um deserto. Neste caso, um cantil d'água torna-se muito mais valioso.

O julgamento de bom ou mau, perfeito ou imperfeito, representa sempre uma consideração subjetiva de características de cada objeto, um ponto de vista apenas. O nosso valor pessoal, como identidade que somos, é sempre máximo, pelo simples fato de existirmos. Não é mensurável. Somos uma manifestação do Universo.

Tudo o que existe, sob o ponto de vista da inteireza do Universo, não pode ser avaliado pela dimensão de valor, por duas razões: primeiro, porque não podemos julgar o uso de nós próprios como um todo, em todos os contextos possíveis; não possuímos todo o conhecimento do universo, para avaliar em que estamos sendo "mais ou menos úteis".

E, também, porque fazemos parte da coisa avaliada; existir é sempre uma característica dicotômica, uma questão de "sim" ou de "não"; não se pode dar notas graduais para isso. Em suma, se um aspecto do Universo está sendo considerado como um todo, sendo levado em consideração em sua totalidade sistêmica, não pode ser julgado como tendo "mais" ou "menos" valor do que a totalidade do Universo. Seja este aspecto sistêmico uma coisa, pessoa ou fenômeno, o seu valor de Ser é sempre máximo. Em outras palavras, o conceito de valor não se aplica.

Quando efetivamente sentimos isso como uma realidade em nossa consciência, a questão da auto-estima pode ser discutida em outro nível. A cultura judaico-cristão, da qual fazemos parte, nos inculcou a idéia de valor pessoal e de pecado original. Nascemos "devedores" e tendo que "tornarmo-nos dignos" para "ganhar" o céu. E isso é decidido no "juízo final". Culturalmente, começamos já em uma situação desvantajosa - todos começam assim com baixa auto-estima e devem ganhá-la ou conquistá-la.

Aqueles que esperam conquistá-la tornam-se mais proativos no mundo, buscando aumentar a sua sensação de valor pessoal; aqueles que esperam ganhá-la costumam ser mais reativos, aguardando que outros reforcem a sua sensação de valor pessoal. Isto acarreta vários sintomas, provenientes da ilusão de que devemos "aumentar a nossa auto-estima".

Há os que buscam aparentar, para si e para outros, uma auto-estima "menor". Seu comportamento é cabisbaixo, sua ação é desleixada; seu relacionamento é de submissão. Atraem a pena e a proteção de uns e a rejeição de outros. E há os que buscam aparentar uma auto-estima "maior" do que outros. Seu comportamento é arrogante, sua ação é agressiva; seu relacionamento é de manipulação. Atraem admiração de uns e ressentimento de outros.

O enfoque no aumento da auto-estima como solução de problemas psicológicos, interpessoais e até empresariais, tão divulgado hoje em dia, decorre desta distorção de compreensão gerando, inclusive, uma busca vã. Não importa quanto mais nos esforçamos para fazer e obter coisas que nos "aumentem" a auto-estima, sempre poderemos pensar em algo mais a ser feito, gerando assim mais ansiedade e melancolia.

Se, em contrapartida, pelo simples fato de existir, temos total e integral importância e significado - não valor, que implica mensuração e sim razão para existir, dignidade e respeito próprio - a auto-estima deixa de ser considerada algo com que devemos nos preocupar e torna-se natural, não perceptível. A sensação de importância pessoal, se igual para todos, é invisível. Paramos de tentar nos tornarmos "mais importantes", já que todos são igual e perfeitamente importantes, apenas pelo fato de sermos uma manifestação pessoal do Universo.

A Auto-Estima representa a nossa relação emocional conosco mesmo, nossa auto-aceitação. A auto-estima é consistente quando sentimos que somos importantes pelo que efetivamente somos, independentemente do que fazemos ou deixamos de fazer.

Ser, Fazer e Ter

A maioria das pessoas lastreia a sua Auto-Estima em suas sensações pessoais do TER, isto é, aquilo que conseguiram amealhar na vida. O TER pode ser representado em termos de posses pessoais, mas também em termos de relações - ter muitos amigos, receber muitos telefonemas - e outras manifestações exteriores de sucesso.

Para este grupo, parece evidente notar que a sua auto-estima terá altos e baixos: como a sua sensação de amor-próprio depende de referências externas, do feedback que recebe de outras pessoas, e isso é necessariamente mutável, jamais terão uma certeza absoluta de seu valor pessoal. Freqüentemente passarão por fases de insegurança e insatisfação. Grande parte da população vive assim; na perpétua afirmação de seu status social, perante os olhos dos outros, buscando em comprar e ostentar uma oportunidade de valorizar o seu ego...

Existe também aqueles que baseiam a sua auto-estima em uma forma mais ”pró-ativa” de viver, isto é, em suas sensações pessoais de FAZER. Para essas pessoas, um grupo bem menor, não conta tanto o feedback externo, o indício de posses, e sim em estar fazendo o que gosta, trabalhando a sua ”realização pessoal” e estar envolvido em tarefas que representem a manifestação de sua individualidade.

Encontram-se aí pessoas mais auto-orientadas, que utilizam feedback interno como forma de aquecer a fornalha do amor-próprio. Tais pessoas, mesmo em épocas de crise, continuarão a trabalhar de forma intensa naquilo que acreditam ser o correto fazer. Mesmo assim, por não levarem em conta o feedback externo, por vezes parecerão obstinadas, teimosas, cabeças-duras, persistindo em realizar algo que não é mais viável, trabalhando em um produto que não tem mais compradores ou mantendo a mesma forma de atuar, mesmo que as situações mudem... Vemos neste grupo muitos empresários, empreendedores, camelôs, atores, artistas plásticos, artesãos, alguns tipos de vendedores.

O terceiro grupo, que de longe é o menos populado, baseia a sua auto-estima não no que conseguem do mundo - Ter - e também não naquilo que oferecem ao mundo - Fazer. Este grupo atua de forma equilibrada, buscando identificar o seu lugar pessoal no mundo, isto é, como a sua individualidade se ajusta à “globalidade” e como aquela serve à esta. São pessoas baseadas no SER.

Contudo, estar “baseado no SER” não é ficar absolutamente parado, estático, vivendo uma vida alheada da busca de coisas materiais, em uma busca espiritual de comunhão com a divindade. Ao contrário, é agir sim, e realizar algo. Mas realizar com a expressão de si próprio, de forma autêntica. Estas pessoas buscam uma forma de equilibrar o lado “pró-ativo” com o lado ”reativo” da personalidade.

Isto se obtém alinhando aquilo que o mundo dá com aquilo que se doa ao mundo, de tal sorte que estejamos criando algo que nos dê satisfação pessoal e ao mesmo tempo auscultando as respostas positivas que o mundo nos devolve. O objetivo final é oferecer aquilo que o mundo precisa mas apenas dando em troca aquilo que realmente desejamos oferecer ao mundo...

É difícil pertencer a este último grupo, pois a Auto-Estima é um sentimento de valor pessoal. E a busca deste equilíbrio entre “o eu e o mundo” passa por altos e baixos. O que fazem as pessoas que buscam alcançar este “estado essencial”, de foco apenas no SER, ao invés de no FAZER ou no TER? Abraçam uma postura de vida que advoga que possuímos um EU interno, especial, em comunhão com a Universalidade, não importa se existe uma crença em um Deus ou não. E passam uma grande parte de seu tempo se esforçando para desenvolver esta “individualidade com responsabilidade universal” - uma espécie de visão ética da vida, mais do que apenas uma visão religiosa.

Isto requer uma nova percepção de nossa Identidade, como realmente integrada ao Cosmos, uma perspectiva realmente sistêmica. E como se obtém uma mudança de percepção em um nível tão profundo de nossa personalidade? Os primeiros passos são simples:

Autoconsciência - observe-se e identifique os momentos, no seu dia-a-dia, em que você começa a julgar-se pelo que tem e faz, atribuindo a si mesmo pontos de valor. Compreenda que este é um hábito cultural, e como tal deve ser tratado. Não adianta recriminar-se por isso, porém. Apenas registre este momentos e aceite que esta maneira de pensar pode e deve ser corrigida.

Auto-Escolha - decida e pratique compreender que a existência é uma possibilidade de Ser, mais do que Fazer ou Ter. Medite, leia e fale à respeito. Comporte-se como se assim fosse. Exercite pensamentos e palavras neste sentido.

Auto-Superação - quando a prática da auto-escolha se tornar confortável, quase automática, busque maneiras de encontrar sensações de satisfação no que realiza, sem que eventuais flutuações nos resultados obtidos traga dúvidas sobre o verdadeiro Ser.

Nossa Missão Pessoal no Universo é principalmente aprender a Ser da melhor maneira possível, não "Fazer ou Ter o máximo possível". O que executamos ou criamos, em nossos resultados pessoais, são conseqüências do nosso SER sendo expresso em plenitude. O julgamento e avaliação de nossos resultados pode nos orientar em nosso exercício de Ser; isto é, o Fazer e o Ter são apenas formas divertidas de que dispomos, ao interagir com o Universo, para que possamos experimentar várias formas de Ser.

Neurologicamente a prática destes estados internalizados produzem mais endorfinas e outras substâncias cerebrais relaxantes, anestesiantes, euforizantes e estimuladoras do sistema imunológico, o que já é um excelente benefício. No entanto, com exceção de poucos ascetas, a maioria de nós precisa, mesmo assim, conviver em um mundo externo competitivo, que em sua maioria manifesta suas preferências pelo feedback negativo... . E avaliar a si com o mesmo e imutável valor, independente do que fazemos e do que temos é, reconheço, praticamente impossível.

Por mais que meditemos no alto das montanhas do Tibet por vinte ou mais anos, nossa consciência individual continua a criar distinções e julgamentos próprios, aprovando-nos mais ou menos, de acordo com as situações da vida - aquilo que FAZEMOS e TEMOS.

As perspectivas atuais do conhecimento da psique nos levam a crer que o EU individual não existe, pois é um substrato do processamento neurológico. Seja isto verídico ou não, isto pode ser útil à análise da Auto-Estima.

A corrente de pensamento que advoga a hipótese da mente como apenas um processo sistêmico, com uma parte cognitiva e outra comportamental, está sendo bem aceita pela ciência moderna, pois é ratificada nos experimentos de laboratório. Esta é uma certeza factual, e a experimentação científica, inegavelmente, nos auxilia em nossa compreensão da realidade.

As vertentes mais “ousadas” desta corrente advogam que, se nossa mente é apenas um processo, ela pode ser "manipulada" de forma benéfica, e assim podemos nos "reconstruir" ao nosso bel-prazer... Sendo assim, nenhum tipo de limitação do tipo "é assim que eu sou" deve ser encarada como algo permanente, a não ser que exista uma forte razão neurológica para esta resignação.

Com esta compreensão, fica muito melhor trabalharmos os conceitos de Auto-Estima. Se nos esforçarmos para nos dar “notas” de Auto-Estima pelo que TEMOS ou pelo que FAZEMOS, estaremos em uma perpétua roda de insatisfações e ansiedades. E mesmo quando nos concentramos apenas no que SOMOS, permanecemos nos julgando pelo conteúdo de nosso mundo mental. Nem sempre é possível alinhar a contento aquilo que gostamos de fazer, de realizar, com aquilo que o mundo nos pede, ou nos exige que façamos. De qualquer modo, apesar de ser uma forma de atuação mais desejável, estar permanentemente focado no SER ainda é sujeito aos altos e baixos da vida.

A melhor forma é percebermos como o nosso Eu pessoal é apenas uma resultante de forças, independente e separado de todo o conteúdo de nosso mundo mental. Isto é, se temos preferências, vontades, desejos, impulsos artísticos, vontades de ter, fazer e ser em nosso mundo mental, estes CONTEÚDOS são válidos e devem, com justeza, serem postos em prática no ambiente físico, material. Se conseguimos manifestá-los, ótimo. Se não o conseguimos, a compreensão de que o nosso EU apenas se manifesta através deles, mas não são intrinsecamente eles, nos permite dispor da tranqüilidade necessária para reavaliar as situações, reestruturar as nossas respostas e continuar atuando da melhor forma possível, sem nos deixar solapar por uma sensação de auto-comiseração, de desvalorização pessoal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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